quinta-feira, março 17, 2005

Da idade

Assumi a minha idade desde a entrada no mundo dos blogues porque a decisão de começar teve algo a ver com a crise existencial e o balanço da vida que , de certa forma, começou aos cinquenta e se agravou pelos cinquenta e cinco, “middle term” entre os cinquenta e os sessenta, passagem entre já não ser novo e entrar decididamente na velhice. Esta é a idade em que toda a gente nos passa a tratar por “minha senhora”, em que os olhos dos mais jovens revelam surpresa e ao mesmo tempo insegurança (“já tem cinquenta e cinco?”), ao mesmo tempo que se mostram claramente desconfortáveis ao discutir certos assuntos à nossa frente (sexo, nomeadamente).
Trabalho com gente jovem e tenho com essas pessoas uma óptima relação, mas já não consigo fazer com elas o que sempre consegui, mesmo em cargos de chefia. Não consigo que me tratem pelo meu nome, simplesmente, sem títulos. Agora, mesmo que eu faça a sugestão, fica claro que não é possível, por óbvio desconforto da parte dos outros. E a intimidade, como a confiança, não se força.
Esta constatação traz-me de novo aqui ,à blogoesfera. Aqui eu tenho dito várias vezes que não me dá jeito tratar os companheiros destas viagens por você. Talvez a razão provenha do facto de não saber de que idade são, o que fazem e portanto chegarem até mim como um carro com zero quilómetros. Só começo a fazer distinções pelo que escrevem e comentam, iniciando aí maiores ou menores afinidades que não têm a ver com sexo, idade, cor, religião. Eu não sei ao certo nada disso relativamente aos que estão do lado de lá. Mas, desse lado de lá, sabem algo que admiti desde o início: tenho mais de cinquenta anos. Isso condiciona um pouco os assuntos que abordo e certamente também os comentários que recebo. Quando visito blogues de gente claramente muito jovem e eventualmente deixo comentários, na resposta já não está a irreverência a que achei tanta piada. Podia continuar mas acho que já cheguei onde queria chegar: mesmo aqui, onde existe liberdade suficiente para nos expressarmos, não largamos as nossas condicionantes de partida. No entanto, conseguimos afinidades que, provavelmente, na vida real não se estabeleceriam, porque formamos a nossa opinião dos outros muito mais pelo que eles têm a dizer, pela sua criatividade, pela sua cultura do que por serem velhos ou novos, mulheres ou homens, brancos, negros, amarelos…Enquanto assim for e estar aqui me enriquecer com o “conhecimento” de pessoas que têm algo a dizer que vale a pena ouvir, aqui ficarei, claro. Mas fica-me a curiosidade de saber qual teria sido o percurso, se não tivesse dito a idade.

4 Comentaram:

Blogger wind disse...

Querida amiga Lique não me interessa a tua idade para nada:) Gosto de ti, do que escreves, da tua pessoa, pelo que és, independentemente da idade. Tens uma abertura que muitos jovens não têm. E se vamos pegar na idade, o que escreves e como o escreves é muito mais maduro do que se calhar tivesses vinte aninhos:) Muitos beijos:))***

11:14 da manhã  
Blogger Conceição Paulino disse...

Olá :) parece k pertenço ao grupo (cada vez maior) das privilegiadas k se n/ importam com a idade. Vivi smp confortável com a k tive em cd mmt da vida. Qnd menina nunca quis ter +; qnd comecei a envelhecer unca quis ter menos. Mesmo agora, gosto da idade k tenho, acho-a um privilègio ( avida é 1 privilégio) mas concordo contigo k e engraçado a forma como nos passam a tratar.E nos elevadores, apartir de 1 certo mmt começaram a dar-me a primazia. Tenho AMIGAS jovens, k foram minahs alunas na faculdade, somos mm amigas, mas é-lhes quase impossível deixarem o tratamento: "professora". O k as regras sociais (as escritas e as outras) fazem às pessoas. Penso k,por aqui n/ tem qq importância. s afinididades são de sentimentos, emoçoes e..escrita. Bom fs com muita chuva e outras coisas boas. Bjs e )

8:59 da manhã  
Blogger Amaral disse...

Esta blogosfera de relacionamentos virtuais, inimagináveis há tempos atrás, tem pouco de embaraçoso. Visto à luz da vela ou deslumbrado por Sol intenso, o que menos interessa, neste mundo bloguista será Quem comenta, ou quem escreve, ou quem critica. Não é preocupante nem absolutamente essencial "saber quem é"!
Não tenho dúvidas, até agora, de que a mensagem é o mais importante!
Tu, lique, por exemplo, até podes não ser o que dizes ser, até "podes ser" o que te convém dizeres, mas o que encontra o eco certo é, sem dúvida, o que queres transmitir. Isso é, para mim, tudo o que importa! Mesmo que a intenção esteja subentendida, ou que haja um propósito premeditado ou escondido - mesmo assim, o reflexo será inevitável. Sejam eles quais forem, um e outro.
Por isso, vou continuar a ler os teus escritos, com a mesma regularidade e o mesmo interesse.

1:44 da manhã  
Blogger lique disse...

A TODOS: Pronto, então estamos entendidos. Eu não tenho idade!! :)) Beijinhos e abraços

10:10 da tarde  

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