sexta-feira, maio 06, 2005

Os meus livros (II)




Vejo-me em Praga, olhando os tanques russos que passam e destroem as minhas ilusões. Ali sou Tereza e Tomas é o meu amor. A minha paixão, o meu ciúme, a minha obsessão. Sou frágil e, no entanto, disposta a tudo por ele. Sinto-lhe nos cabelos o cheiro de outras mulheres. Para Tomas, cada mulher tem uma particularidade que o atrai. É a descoberta do que faz cada mulher única que o motiva. A ligação entre sexo e amor é, para ele, um paradoxo. Eu sei e adoeço de medo, de angústia de o perder.

Agora estou na Suiça, exilada, mas não sou Tereza. Ela está com Tomas em Zurique e eu em Genebra. Chamo-me Sabina e Tomas é o meu amante. Já o era em Praga. Sou livre, tenho opiniões muito minhas, não quero compromissos. Mantenho uma relação mais ou menos estável com Franz, casado com Marie Claude. Mas Tomas é especial. Parecido comigo, talvez. Até aparecer Tereza. Tomas e aquele chapéu de coco que guardo… ingredientes de encontros de que Tereza suspeita, sem ter certezas. Carrego comigo este gosto por seguir em frente sempre leve, sem carregar pesos de relações nem remorsos. Uma insustentável leveza.

Mais tarde… mais tarde serei novamente Tereza regressada ao meu país, sozinha. E Tomas virá atrás de mim, suportando uma vida sem horizontes, sem poder exercer sequer a sua profissão de médico. Terminado o seu gosto pela leveza, afogado no mar da minha ternura.
E no fim estarei numa aldeia escondida da Checoslováquia onde pensarei ter encontrado a paz, a felicidade. Com Tomas e Karenine (que afinal era cadela). A felicidade acaba com o fim trágico de que Sabina toma conhecimento, lá na América para onde seguiu, carregando a sua leveza.

Pensando bem, eu queria ter sido Tereza, Sabina e Tomas. Todos os matizes do amor passam no relacionamento deste triângulo.



(Quem não leu “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera, pouco terá entendido. O remédio é ler…)

11 Comentaram:

Blogger Å®t Øf £övë disse...

Parece-me que se trata da velha maxima:
Adoro mulheres principalmente aquelas que mal conheço.
Bom fds.
Bjs.

12:30 da manhã  
Blogger Conceição Paulino disse...

Como te compreendo. Li o livro e vi o filme. Estranhamente, pela 1ª vez, creio k o filme me marcou + do k o livro. Bom fs.Bjs e ,)

1:10 da tarde  
Blogger CLIK disse...

É verdade....viva ler....mas tb viva viver...a arte de experienciar o desconhecido!
Saudações Bloguianas

8:40 da tarde  
Blogger Mitsou disse...

Belíssima apreciação, Lique. para quem leu está perfeito, para os outros fica a vontade de ir confirmar. Beijinho grande e óptimo domingo.

10:27 da tarde  
Blogger M.P. disse...

Não.. não li ainda... Claro que vou ter que ler... :) Bom fim de semana, Lique!**

10:35 da tarde  
Blogger bertus disse...

...
Kundera escreve-nos do "outro lado da liberdade", gera polémica e porque não inamizades e até ódios.
Não é fácil falar de liberdade abertamente...porque há sempre alguém a pensar diferente, "ser diferente", "insustentavel e levemente diferente".

Beijos e intés!!

12:30 da tarde  
Blogger BlueShell disse...

Eu li...e recordo ainda a emoção que me provocou...estranha...mas inesquecível...
Jinho, BShell

4:48 da tarde  
Blogger Menina Marota disse...

Eu li o livro e vi o filme...há histórias que marcam, por serem inesqueciveis...

Um beijo de boa noite ;-)

2:39 da manhã  
Blogger Unknown disse...

há numa passagem do livro (não me apetece ir à procura) uma referencia a uma forma leve como se passa e encara a vida. sempre invejei esse estar. para quem não leu, a não perder mesmo.

9:50 da manhã  
Blogger saltapocinhas disse...

Formidáveis, o livro e o filme! É daquelas histórias que nunca mais se esquecem. Lindo!

11:37 da tarde  
Blogger Amaral disse...

Pois é, esse não li. E pelo excerto que aqui trazes, é daqueles que se lêem a correr…

12:55 da manhã  

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