terça-feira, abril 05, 2005

Zhang Yimou – Para lá das artes marciais



"O segredo dos punhais voadores" - o amor


A minha reacção, quando me falaram de ir ver “O segredo dos punhais voadores” foi de dizer que não estava nada virada para artes marciais, lutas de espada e argumentos idiotas. Não tinha visto “Herói”, o filme anterior mais conhecido deste realizador. Portanto a minha referência (bastante boa, aliás) do cinema chinês actual vinha apenas de “O tigre e o dragão”, de Ang Lee, do qual tinha gostado mas que acreditava ser uma pérola rara. Ignorância pura sobre a realidade do cinema chinês (ou de origem chinesa, porque estes são filmes “made in Holywood”).
Acabei por ir ver o filme, claro, ou não estaria para aqui a falar sobre ele. E, no dia seguinte vi o DVD do “Herói”. Foi uma dose reforçada. E… adorei! Dito isto assim, parece um comentário idiota. Mas o facto é que adorei, mesmo.



"Herói" - o amor - azul


Acho que, num filme, não conta apenas o argumento, a interpretação, etc. Há algo que nos pode tocar de forma imediata que é a estética do filme. A imagem, a cor, o cenário, até o vestuário. A forma como a câmara nos mostra cada plano.
A estética destes dois filmes é absolutamente extraordinária. Existe um apuro tal em termos de cor e “encenação” de cada plano que uma cena de acção se diria composta de vários quadros em que tudo é perfeito.



"Herói" - negro




"Herói" - vermelho

Destaco fundamentalmente no “Herói” a narração da história em variações cromáticas: o preto, o vermelho, o verde, o azul e o branco (a verdade é branca…). As cores harmonizam-se no vestuário, na paisagem, nos pormenores do cenário. Um sonho de imagem.




"Herói" - verde




"Herói" - branco


Em “O segredo dos punhais voadores” a cena da luta na floresta de bambu, toda ela também em tonalidades de verde e ambiente de semi-nevoeiro, onde a perícia das espadas corta os bambus e a folhagem num bailado de uma beleza incrível, quase vale todo o filme. Mas há também a dança de Mei e o jogo do eco que proporcionam momentos de excepcional encanto.




"O segredo dos punhais voadores" - Na floresta de bambu






"O segredo dos punhais voadores" - Jogo do eco


Não pareço estar a falar de um filme de artes marciais? Não, de facto. Nestes filmes, a beleza vai muito para além da estética bem coreografada das artes marciais ou até do maravilhoso trabalho com o fio que nos dá a sensação de que as personagens voam. Até a morte quando ocorre é estilizada e o sangue (aliás quase inexistente) um elemento cromático com a mesma importância dos outros.





"O segredo dos punhais voadores" - Dança de Mei

O que, fundamentalmente, me cativa é o apuro estético, os argumentos baseados em histórias tradicionais chinesas, as belíssimas histórias de amor. Filmes para sonhar. Quem não acredita, vá ver.

3 Comentaram:

Blogger Conceição Paulino disse...

Oh, sabes k das minhas companhoas desse dia, ninguém ,para além de mim queria ir ver o filme (idêntica reacção). depois renderam-se. A estética (total) é realamente de um apuro de encantamento. Ah, roubei-tte umas imagens. Bjs e ;)

5:56 da tarde  
Blogger Menina Marota disse...

Pela beleza das imagens e pela tua descrição, um filme que ierei ver, de certeza.

Um bom domingo e um abraço carinhoso :-)

9:28 da manhã  
Blogger Unknown disse...

Estou a gostar de te ver escrever sobre cinema... esses filmes de que tu falaste, são todos feitos na China, parece que 'o tigre e o dragão teve algum dinheiro americano, mas na sua essência é chinês.
Ainda não vi este filme. Quanto à beleza das imagens não é de admirar dado que o director de fotografia é o mesmo do 'in the mood for love' do Wong Kar-wai que foi uma das coisas mais lindas que vi nos últimos anos.
O oriente tem muito para nos contar...
Beijinho.

12:05 da manhã  

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