terça-feira, junho 28, 2005

As canções da minha vida (III)






I've been loving you too long

(Otis Redding & Jerry Butler)






I've been loving you too long to stop now

There were time and you want to be free
My love is growing stronger, as you become a habit to me
Oh I've been loving you a little too long
I dont wanna stop now, oh
With you my life,
Has been so wonderful
I can't stop now

There were times and your love is growing cold
My love is growing stronger as our affair grows old
I've been loving you a little too long, long,
I don't want to stop now
oh, oh, oh
I've been loving you a little bit too long
I don't wanna stop now
No, no, no

Don't make me stop now
No baby
I'm down on my knees Please, don't make me stop now
I love you, I love you,
I love you with all of my heart
And I can't stop now
Don't make me stop now
Please, please don't make me stop now
Good god almighty I love you
I love you, I love you, I love you
I love you, I love you
I love you in so many different ways...
I love you in so many different ways....



Otis Reding



(Lembranças de tempos antigos...)

quinta-feira, junho 23, 2005

Um poema de vez em quando (I)






Voz imensa


Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
Dir-se-ia que os dois conversam com o ocaso.

É de ouro e silêncio. A tarde é de cristais.
Embala as frescas árvores uma pureza errante.
E, para além de tudo, sonha-se um rio límpido
que, separando pérolas, foge rumo ao infinito.

Solidão! Solidão! Tudo é silente e claro.
Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...

O amor vive longe. Sereno, indiferente,
o coração é livre. Nem triste, nem alegre.
Distraem-no brisas, cores, toques, perfumes…
Nada como num lago de sentimento imune.

Somente abrem a paz um sino além, um pássaro...
Dir-se-ia que o eterno está aqui, ao nosso lado.


Juan Ramón Jimenez, in Antologia Poética, ed. Relógio d’Água



Juan Ramón Jimenez (1881-1956), escritor espanhol, foi Prémio Nobel da Literatura em 1956.

domingo, junho 19, 2005

"Mr and Mrs. Smith" ou: Um colírio que não faz mal, de vez em quando…

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Eles, tão lindinhos



Pois é claro que todos temos o direito a pura diversão e a ir ao cinema porque sim, mesmo já calculando que o filme não é grande coisa. Bem, juntamente com isso, há também o direito (ou o dever?) de desembolsar uma quantia que já não é nada insignificante para ver, no grande ecrã, algo que, de facto, não adianta nem atrasa.
Balançando prós e contras, decidi que me apetecia ver Brad Pitt e Angelina Jolie a trabalhar juntos, ou seja, decretei que ia ser a minha noite dos bonzões (masculino e feminino, pois claro). Acham estranho? Mas não é. O tempo está quente, as noites convidam a sair, apetece ver algo que nos distraia do deficit, do arrastão, da crise da Europa, das desgraças acumuladas deste país e não só.
Interessa a alguém saber como é o filme? Interessa, mesmo…?? Acho que não, mas é daqueles que se vêem e que até tem um ou outro momento verdadeiramente divertido. É um filme de acção e nesse ponto não me pareceu especialmente bem conseguido. Há, sem dúvida, muito melhor. Aqui aparecem muitas armas, alguma ilusão de alta tecnologia e o centro, afinal, é a relação do casal. Por aí, também nada de novo. A dicotomia amor-ódio já foi mais que explorada.


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Em acção



Então, querem saber se valeu ou não a pena? Meninas (e meninos, eventualmente) gostam do Brad Pitt? Acham o rapaz engraçado, bem constituído, irresistível com aquele jeito de beicinho que ele faz de vez em quando? Ora, quem gosta, entende o que eu quero dizer. Eu gosto. Não é o meu preferido mas é um dos que me lavam a vista.
Meninos (e meninas, eventualmente) gostam da Angelina Jolie? Daqueles lábios de tamanho descomunal (silicone?), daquele corpinho perfeito, daquele aspecto de botas, t-shirt de alças e calças “sport” para logo a seguir usar um vestido de noite? Pronto, se gostam, já me entenderam. Sinceramente, não é o meu tipo de mulher (claro que as mulheres também têm um tipo de mulher que preferem), mas “vê-se bem”.
Assim sendo, eles estão lá os dois, tal qual a imagem que os tem popularizado. Em relação a isso, o filme também não inova nada. Se gostam e estão a precisar de colírio para vos lavar os olhos, façam, como eu, uma noite dedicada aos “bonzões” e vão ver. Mas também vos garanto que, se não forem, não perdem nada.

quarta-feira, junho 15, 2005

Os meus livros (IV)





O olfacto é um dos sentidos a que, por vezes, pouco ligamos. Sabemos da sua importância no sabor dos alimentos. No entanto, passamos, com frequência, inconscientes da sua importância na impressão que algumas pessoas nos causam, no nosso gostar ou não de um determinado local, etc.
Se tivéssemos nascido sem qualquer cheiro, que impressão causaríamos nos outros? E que nos aconteceria se desenvolvêssemos o sentido do olfacto de tal forma que distinguíssemos a grande distância todos os cheiros que compõem a mistura que anda no ar? E se as duas coisas acontecessem em simultâneo?
Jean-Baptiste Grenouille acumula estas duas características. Criança abandonada e mal amada porque estranha (sem cheiro…), o seu extraordinário olfacto vai permitir-lhe impor-se como um talento fora do comum no mundo da perfumaria. Mas aprende também a criar perfumes para usar, dando a si próprio um cheiro que corresponde às características que deseja que os outros detectem nele. Tudo isto se passa entre Paris e Grasse, o centro da fantástica indústria da perfumaria.
A história podia ser interessante só pelo que foi dito até agora. Mas há mais. É que os perfumes “perfeitos” pertencem a corpos humanos. Corpos de raparigas jovens, virgens. E Grenouille transforma-se num assassino. A sua vida, as suas motivações e o seu caminho para a perdição final compõem um livro extraordinário que, edição após edição, continua a maravilhar quem o lê. “O perfume” de Patrick Suskind é um dos livros que releio sempre que me apetece saborear uma história contada de tal forma que quase “cheiramos” os ambientes e as personagens.

segunda-feira, junho 13, 2005

Até amanhã, camarada

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“Podia ter sido o que quisesse”. É o que costumamos dizer daqueles que nascem afortunados em dons de inteligência e talento. E lamentamos por vezes que sigam os caminhos mais difíceis, aqueles em que mais obstáculos surgem. Esquecemo-nos que, ao fazerem essa escolha, estão exactamente a ser aquilo que querem.
Álvaro Cunhal podia ter sido o que quisesse. Advogado de fama, escritor ou artista plástico consagrado, sei lá mais o quê. Quis servir um ideal que para ele representava dar o poder e a liberdade ao povo. Dedicou a esse ideal toda a sua vida e tornou-se num dos lideres políticos mais dignos desse nome do Portugal moderno. Quem quer que seja que saiba o mínimo da História Portuguesa contemporânea, sabe quem foi, qual foi o espinhoso percurso da sua vida (sobretudo nos tempos anteriores ao 25 de Abril) e a sua importância nos tempos posteriores à revolução.
Para mim, é uma referência de toda a minha vida (sempre me lembro de ouvir falar dele), alguém que representava um ideal de esperança, alguém com quem concordei e discordei mas que sempre respeitei profundamente. Poucas pessoas que se dedicam à política atingem o estatuto que ele atingiu, pela entrega, pela honestidade, pela convicção, pelo carisma. E já nem falo (outros o farão com muito mais dados que eu) da importância que teve no Partido Comunista.
Álvaro Cunhal partiu deste mundo, deixando uma imagem que, até os que têm uma posição política totalmente oposta, respeitam. Quantos políticos, quantos lideres partem com este capital de realização?

A minha homenagem fica aqui, ao lutador, ao homem político, ao símbolo que foi para mais que uma geração. Até amanhã, camarada.

domingo, junho 12, 2005

Companheiro Vasco

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“Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”. Desde que ouvi a notícia, as palavras não me saem da cabeça. E, de alguma forma, tenho a obrigação de prestar homenagem a alguém que acreditou convictamente em tudo o que defendia. Acreditou sempre, mesmo quando muitos outros voltaram costas a essas certezas, por pragmatismo ou por que a dúvida venceu.
Não quero aqui discutir ideologias nem a sua aplicabilidade. Para uns ele terá sido o protagonista do tempo da mais luminosa esperança neste país, para outros o da mais negra noite. Provavelmente não foi nem uma coisa nem outra. Foi, de certeza, um homem que se deu, inteiro e sem condescendências, à causa em que acreditava. E para o bem ou para o mal, influenciou definitivamente um período da história deste país.

E a minha dúvida hoje não tem nada a ver com a homenagem que tenho a certeza que ele merece e que aqui lhe presto. Tem a ver sim com o facto de não saber se alguma vez, em alguma circunstância, seja em nome de que causa for, nós, portugueses, conseguiremos ser “a muralha de aço”.

Descansa em paz, companheiro Vasco.

sexta-feira, junho 10, 2005

As canções da minha vida (II)





Bridge over troubled water




When you're weary, feeling small
When tears are in your eyes,
I will dry them all
I'm on your side
When times get rough
And friends just can't be found

Like a bridge over troubled water
I will lay me down
Like a bridge over troubled water
I will lay me down

When you're down and out
When you're on the street
When evening falls so hard
I will comfort you
I'll take your part
When darkness comes
And pain is all around

Like a bridge over troubled water
I will lay me down
Like a bridge over troubled water
I will lay me down

Sail on silver girl
Sail on by
Your time has come to shine
All your dreams are on their way
See how they shine
When you need a friend
I'm sailing right behind

Like a bridge over troubled water
I will ease your mind
Like a bridge over troubled water
I will ease your mind



P. Simon, 1969

terça-feira, junho 07, 2005

O fado das noites daqui

A noite estava morna, de início. Depois a brisa começou a soprar. Não estranhei. As noites de Verão em Oeiras (e este foi um dia de Verão embora o calendário o desminta) têm esse arrepio de vento que pede um qualquer agasalho. Não sei exactamente o que me decidiu a ir até ao Largo da Igreja. Eu não gosto de fado. Será sacrilégio, talvez. Mas tem que ser dito porque eu não ia à espera de me interessar grandemente.
O espectáculo começou à hora. Menos mal. Pontualidade é bonita e eu gosto. E, depois de uma conversa apresentando o “filho da terra” que dispensava apresentações, a voz de Camané fez-se ouvir:

“Eu sei que esperas por mim
Como sempre, como dantes
Nos braços da madrugada...
Eu sei que em nós não há fim,
Somos eternos amantes,
Que não amaram mais nada.”


E eu pensei que era mesmo por causa destas fatalidades todas que não gostava de fado. Mas continuei a ouvir. E, olhando o belíssimo céu estrelado que era cúmplice daquele momento, tentei concentrar-me na voz e no som daquela música que quase nos faz doer. Não foi fácil. Crianças corriam, riam e gritavam como em qualquer espectáculo ao ar livre. E a voz dizia:

“Saudades trago comigo
Do teu corpo e nada mais
Pois a lei por que me sigo
Não tem pecados mortais”

De alguma forma, a magia do fado conseguiu alcançar-me. Aquele som dolente, arrastado ou gingão, deve-nos estar adormecido debaixo da pele. E acorda, de vez em quando. Por isso até consegui sentir aquilo que as letras diziam, como se fosse plausível, como se fosse meu:

“Se ao menos o teu olhar
Desse por mim ao passar
Como um barco sem amarra
Deste fado onde me deito
Subia até ao teu peito
Nas veias de uma guitarra”


Ah, fadista!




(Camané actuou em Oeiras no âmbito das festas do concelho que têm lugar de 3 a 19 de Junho. O programa completo que vale um saltinho até cá está no site da Câmara Municipal de Oeiras)

quinta-feira, junho 02, 2005

Star Wars ( estes ou os outros?)





Eu tenho mesmo que escrever isto. Sim, já sei, não se trata de filmes ditos “de qualidade” e coisas do género… mas eu tenho que confessar aqui que gosto de cinema de ficção científica, de acção, fantástico e sei lá mais o quê. Eu gosto de cinema. Ponto. Sempre me fez confusão porque é que alguém começa a contar uma história no IV Episódio. E, a falar verdade, mais confusão ainda me fez que, após ter conseguido um êxito que atravessa gerações com o IV, V e VI Episódios, alguém vá pegar no I Episódio, muitos anos depois.
Vou, no entanto, esquecer as motivações de George Lucas para ter feito assim. Quero simplesmente confrontar a primeira série de episódios com a segunda. Quais as diferenças? E afirmo já que , claramente, isto pode degenerar em conflito de gerações. Exagero? Claro. Mas eu no fim explico porque digo isto.
Gostei bastante da trilogia inicial. Alguns anos depois, as minhas filhas adoraram a mesma trilogia. Razões? Uma história razoavelmente bem contada, a luta do bem contra o mal (dá sempre audiências) e a ligação clara entre as personagens principais (camaradagem, solidariedade) bem como o centrar das atenções na “força”, algo que alguns usavam para o bem e outros nem por isso. Havia subjacente um claro espírito de saga e de libertação que levava forças bastante inferiores a conseguirem vencer outras com um poder bem maior. Havia também algum efeito de surpresa no argumento e um humor bem conseguido. Linear, tudo isto? É, mas funcionava e a história de alguma forma tornava-se credível dentro do mundo de ficção em que se passava.
E no que respeita à trilogia “moderna”? Pois, batam-me se quiserem, mas eu só vi efeitos especiais (muitos e bem feitos), cenas que parecem desligadas umas das outras, personagens que não nos conseguem fazer acreditar que têm sentimentos reais. Efeito surpresa? Nenhum. Pois se nós até já sabemos o que se vai seguir… A questão da “força” como algo que deve servir para o bem e cujo uso é algo complicado que tem que ser aprendido, passa absolutamente despercebida. A “passagem para o lado negro” de Anakin Skywalker é tratada de uma forma perfeitamente ridícula. Afinal é a questão fundamental desta trilogia, exigia-se bastante mais. O espírito de saga, a existência daquele grupo como um corpo unido pela “força”, tudo isso é minimizado. Viva Hollywood, a criação digital e os brilhantes efeitos especiais! É o que está a dar.

Porque é que isto pode ser razão para um conflito de gerações? Experimentem dizer isto ao meu sobrinho que diz que são ridículos os efeitos especiais da primeira trilogia! É uma discussão épica. Mas vale a pena… :-)